Essa volatilidade é atribuída às chuvas verificadas na última semana de maio e que foram concentradas nas bacias dos rios Paranapanema e Tietê. Esse fator contaminou o modelo Newave que avalia a hidrologia apenas do mês anterior e, com isso, trouxe uma visão mais otimista para a operação do sistema, mesmo com um cenário de armazenamento nos principais reservatórios do Sudeste em uma condição mais desfavorável que a verificada no mesmo período do ano passado, segundo apontou o próprio Operador Nacional do Sistema Elétrico em sua reunião mensal da Programação Mensal de Operação referente a junho, realizada na quinta-feira, 25 de maio.
De acordo com Bernardo Bezerra, diretor da PSR, esse cenário de maior aversão ao risco traz uma maior volatilidade diante do cenário climatológico visto no mês passado. Em abril, lembrou ele, a perspectiva era de baixa afluência, o que elevou os valores do CMO e PLD de maio. Ele explicou que como o Newave olhou para maio viu uma forte afluência. Como a estimativa era mais pessimista quando fez a avaliação de maio levando em conta o ocorrido em abril, isso levou à projeção de maio para baixo.
“A calibragem do CVaR com maior aversão ao risco tende a ter maior volatilidade de curto prazo”, definiu Bezerra. “Se o modelo achava que vinha uma seca e de repente veio afluências dentro da média, isso passa a visão de que a operação foi errada e tomou a decisão errada de despachar térmicas desnecessariamente, então passa a desligar essa usinas”, explicou ele, um fator que acabou justificando o acionamento da bandeira verde pela Aneel.
Ainda na reunião do ONS, a previsão climática é de que o mês de junho seja normal, ou seja, seco e frio. Se essa previsão se confirmar e não houver afluências significativas como as projetadas, o sinal dado para essa primeira semana poderá se inverter da mesma forma e a gangorra do Newave voltar a indicar a necessidade de despacho de térmicas de CVU mais elevado, a depender das previsões. Nos dois últimos meses vigorava o primeiro patamar da bandeira vermelha que é acionado com usinas térmicas de CVU acima de R$ 422,56/MWh. Duas semanas atrás, o diretor geral do ONS, Luiz Eduardo Barata, afirmou que as projeções eram de que o país poderia ter o acionamento de bandeira vermelha a partir de junho, sendo que esta sinalização tarifária era projetada na cor amarela nos dois meses anteriores.
A consultora Leontina Pinto, da Engenho, lembra que esse cenário que está desenhado para o inicio de junho assemelha-se muito ao período pré-racionamento e que não faz sentido essa queda do PLD em um momento em que a bacia do rio São Francisco está em situação crítica e o Paranaíba e Grande estão com um nível abaixo do razoável para esse período do ano. Ela argumenta que mesmo com a afluência positiva no Sul e parte do Sudeste essa situação requer atenção, até porque o Sul não tem muita capacidade e pode esvaziar rapidamente.
Ela corrobora a análise de Bezerra, da PSR, ao afirmar que ao olhar para o passado e usar esses dados para projetar o futuro traz um risco, pois não se considera as anomalias climáticas do período. “Esse sinal verde é perigoso. Está contando com uma chuva que não tem e não se sabe se chegará. Essa é uma expectativa que pode não acontecer e isso pode reverter a expectativa e os valores voltarem a disparar”, comentou. Para ela, o ideal nesse momento é que o ONS indicasse a necessidade de despacho fora da ordem de mérito o que elevaria o ESS-SE, pois em sua opinião essa bandeira verde beira a imprudência.
Renato Mendes, consultor da Thymos Energia, compartilha a opinião de que podemos ver uma gangorra nos preços de curto prazo. Ainda mais se os indicadores apresentarem alteração durante o mês de junho. Ele comentou que os índices adotados para o PMO contribuíram para a elevação da ENA inicial de junho. E isso teve um efeito importante que elevou a base que projeta o mês seguinte.
Mendes lembra que a adoção de parâmetros calibrados no sentido de aumentar a aversão ao risco no CVaR tinham o objetivo de elevar o nível médio de preços e reduzir a volatilidade em favor de uma maior estabilidade e não volatilidade de preços. Em sua avaliação, esse segundo mês de aplicação dos parâmetros alfa e lambda atualizados deverá levar a mais discussões sobre o modelo e os novos pesos atribuídos.
“A SAR é um conceito mais físico e você teria um nível meta. Será que as chuvas mudaram tão significativamente o cenário de operação do sistema? A SAR poderia indicar”, disse o consultor da Thymos. “Essa queda de mais R$ 350/MWh no CMO é muito expressiva, deve reacender as discussões acerca do modelo”, finalizou.
Fonte: Canal Energia – 26.05.2017