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Preço, não lastro, vai restringir migração no mercado livre, apontam agentes

Preço, não lastro, vai restringir migração no mercado livre, apontam agentes

Escassez de energia no primeiro quadrimestre será revertida por geração do setor sucroenergético e perfil de sazonalização a partir de maio

Mauricio Godoi, da Agência CanalEnergia, de São Paulo, Mercado Livre
28/04/2017

O mercado livre de energia incentivada ainda possui lastro para os consumidores especiais. Apesar de ter havido uma pressão sobre os volumes disponíveis ao mercado essa liquidez deverá voltar já a partir de maio. Nesse contexto são esperados a injeção de volume de energia o setor sucroenergético que começa a ter sua produção nesse período do ano, o anúncio desde o ano passado de que em maio passaria a valer novos parâmetros de risco do CVaR cuja tendência era de preços mais elevados estimulou a concentração da sazonalização de energia a partir do mês que se inicia nesta segunda-feira. Além das ações indicadas pela própria Câmara de Comercialização de Energia Elétrica.

De acordo com um estudo da CCEE, divulgado na última quinta-feira, 27 de abril, a intensa migração de consumidores especiais para do ACR para o ACL apontou a ocorrência de escassez de lastro de energia incentivada para atender a esta demanda já em 2017. Contudo, há a possibilidade do restabelecimento do equilíbrio ente oferta e demanda, o que exige iniciativas de comercialização com a negociação dos montantes de contratos atualmente comprometidos com consumidores livres e autoprodutores. O estudo indica que de janeiro de 2016 ao mesmo mês deste ano foram registradas 4.612 novas unidades consumidoras no perfil de consumidor especial na CCEE, sendo que 91% consomem até 1 MW médio.
A expectativa do mercado é de que o ritmo de migrações do ACR para o ACL seja drasticamente reduzido em 2017 por dois motivos principais. O primeiro é a base de comparação com 2016 já que no ano passado o que ocorreu foi um ponto fora da curva de migração como a própria CCEE apontou quando se olha os números absolutos. O segundo é a elevação de preços, com os valores atuais que estão na casa de R$ 300 a R$ 350/MWh, em muitas regiões já não há vantagem em mudar de ambiente.
De acordo com o presidente da Comerc, Cristopher Vlavianos, com o PLD ao patamar que se revelou para essa primeira semana de maio, de R$ 448/MWh em quase todo o país, não há possibilidade de que os valores de contratos no ACL sejam competitivos. “Quem está migrando agora é porque o processo já está encaminhado e se contratou a valores muito menores do que hoje está sendo encontrado no mercado. Mas iniciar esse processo hoje, para efetivamente migrar daqui a seis ou oito meses não vale a pena”, aponta. “O fator que vai restringir a expansão não é a escassez de lastro e sim o preço”, define.
Até porque, lembra ele, a análise de disponibilidade não levou em conta o acréscimo da biomassa que começa nesse período do ano que injeta mais cerca de 4 mil MW médios para o sistema. A questão da sazonalização é outro ponto que levou muitas geradoras a alocar energia a partir de maio quando se sabia que os preços estariam mais elevados.
O presidente da Tradener, Walfrido Ávila, engrossa o discurso de que há liquidez no mercado e lembrou de um leilão que a Enel realizou no dia em que a CCEE divulgou as informações de lastro de incentivada como um exemplo de que há o produto. Ele corroborou a avaliação de que ainda temos o inicio da geração da biomassa como um fator que injetará mais energia para o mercado incentivado.
Contudo, lembra que um equilíbrio mais estrutural para o mercado poderia ser obtido com a liberação dos limites de migração de consumidores livres que acessam a energia convencional, o que poderia liberar mais incentivada ao mercado de incentivada. “Se baixar o limite que hoje é de 3 MW temos um maior equilíbrio de preços já que temos sobra da convencional. Com isso poderíamos evitar multas ao consumidor livre pois a oferta estaria mais bem distribuída e como consequência o preço baixa e afeta até mesmo os valores futuros em leilões para o mercado regulado”, analisa.
Ávila também relata uma certa paralisação do movimento de migração ao ACL mas isso por conta do atual patamar de preços da incentivada. Como a convencional está em um valor menor, teríamos a volta da competitividade e o retorno no movimento de migração sem a pressão vista atualmente no produto que oferece desconto no fio.
A especialista em Inteligência de Mercado da Delta Energia, Débora Mota, confirma que houve uma escassez do produto incentivado no Brasil, mas isso ocorreu mais por conta da sazonalização concentrada a partir de maio, fruto da entrada em vigor dos novos parâmetros do CVaR e consequente tendência (confirmada) de preços mais elevados. Com isso, verificou-se spreads elevados no primeiro quadrimestre, entre R$ 50 e R$ 60/MWh entre a incentivada e a convencional.
“A tendência é de que haja mais energia disponível e redução do spread quando comparada à convencional quando olhamos daqui para frente”, disse. “Ainda há um grande número de migrações para esse ano mas não tanto como em 2016, quando preço estava muito baixo. Hoje o problema é de lastro, apesar de estar mais justo, e mais de preço elevado por conta também dessa relação entre oferta e demanda”, acrescenta.
Contudo, em sua opinião há formas de minimizar esses efeitos. Os mecanismos que já existem como o MCSD Energia Nova e as negociações bilaterais entre geradoras e distribuidoras podem injetar mais energia no ACL, reduzindo a pressão vista atualmente. E indica ainda que a solução apontada pela CCEE de liberação dos contratos de incentivadas com consumidores que podem aderir à fonte convencional levaria a mais 668 MW médios para o mercado por meio de swap de energia, mas que essas trocas devem ser feitas com base em um grande número de premissas entre elas o custo adicional que se teria com a tarifa fio e a política da empresa que muitas vezes recorre à energia renovável como ferramenta de marketing ou causa ambiental.
Mas lembra que qualquer volume liberado para o ACL incentivado poderia abrir espaço para um volume grande de migrações, até 1 mil novos em 2017 caso metade desse potencial pudesse ficar disponível ao mercado. “Isso mostra que há alternativas e espaço para que a migração para o ACL continue sim, o impeditivo é o preço”, finaliza.
Fonte: Canal Energia – 28.04.2017
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